O casal Dirce Sampaio, 78 anos, e Neslon Corrêa, de 81, vai reformar o apartamento onde moram para torná-lo mais acessível. Foto: Werther Santana / Estadão
Bianca Soares / Especial para o Estado
Em 2050, o número de idosos ultrapassará pela primeira vez o de adolescentes e jovens (10 a 24 anos), segundo a Organização das Nações Unidas (ONU). Mais acentuada em países desenvolvidos, a tendência de envelhecimento cria o chamado mercado grisalho, formado por pessoas acima dos 60 anos que devem continuar trabalhando, recebendo e consumindo.
O nicho já está no radar de investidores e operadores imobiliários de países desenvolvidos, mas desperta pouca atenção no Brasil, segundo especialistas. A constatação é problemática, porque até 2025 o País será o sexto mais envelhecido do mundo.
Para o presidente do Conselho Consultivo do Sindicato da Habitação (Secovi-SP), Cláudio Bernardes, a próxima década trará uma demanda significativa o suficiente para despertar o interesse das incorporadoras. “Há pouco tempo éramos uma nação jovem. Então, esse é um conjunto que tem potencial enorme de crescimento, mas não forma, hoje, escala suficiente de clientes.”
Bernardes afirma que o público é formado por dois grupos. Os “novos idosos”, que acabaram de chegar aos 60 e ainda são independentes, e aqueles que já passaram dos 75, mais propensos a cuidados especiais. “Futuro é termos empreendimentos que se antecipem ao que ainda virá a ser indispensável para o grupo um.”
E quais seriam essas necessidades? Elas passam tanto pelo projeto das casas quanto pela decoração. Robson Gonzales, arquiteto e diretor da Arpa, empresa especialista em acessibilidade, lista pontos básicos: portas e corredores largos, que permitam o giro de uma cadeira de rodas, banheiros maiores e com barras de apoio, rampas no lugar de degraus, pisos antiderrapantes, entre outras coisas.
A mobília deve ser pensada dentro da mesma lógica. Tapetes são escorregadios e camas altas comprometem o equilíbrio na hora de levantar, já que não permitem encostar os pés no chão – o mesmo vale para cadeiras e vasos sanitários. As pontas dos móveis precisam ser arredondadas e o trajeto entre quarto e banheiro deve estar sinalizado, sobretudo para evitar quedas durante a noite.
Mas não é só. Conselheiro do Fórum Econômico Mundial e presidente do Centro Internacional de Longevidade no Brasil, o médico Alexandre Kalache aconselha um olhar atento para o estilo de vida do morador.
Acesso fácil ao transporte público, segurança e atrações culturais nos arredores são essenciais, defende. “Provavelmente esse idoso não quer mais dirigir e pretende fazer quase tudo a pé. Livre das pressões do cotidiano, ele agora tem tempo de ir ao cinema, ao teatro, a bares.”
Um dos maiores estudiosos da longevidade, Kalache tem participado de fóruns sobre o tema mundo afora. Em uma de suas palestras para empresários do setor imobiliário, fez uma provocação após ter sido apresentado às chamadas “retirement villages” – uma espécie de vila dos aposentados. “Pedi para eles fecharem os olhos e imaginarem o aniversário de 85 anos.”
Em seguida, perguntou quantos estariam festejando com família e amigos. “Quase todos levantaram as mãos”, lembra. “Mas quando questionei se alguém estaria numa casa de repousa ou numa vila daquelas a resposta foi zero.”
‘Não é bom formar guetos de idosos’
Para o médico, o experimento mostra que mesmo quem está empreendendo na área ainda não compreendeu as demandas desse público. Levanta também, na avaliação da arquiteta e gerontóloga Adriana de Almeida, outra questão: a segregação que moradias do tipo podem gerar. “Não é bom formar guetos de idosos. Já está provado, por exemplo, que a convivência com atividades infantis ajuda no combate à depressão.”
Membro do Comitê Brasileiro de Acessibilidade da ABNT, Adriana defende que construções acessíveis facilitam a vida de todos. “Corrimão de duas alturas auxilia o anão e a criança, a rampa, na altura certa, ajuda o cadeirante e pais que estão empurrando o carrinho de bebê.”
Gonzales, da Arpa, dá consultoria para condomínios. Ele afirma que as incorporadoras tendem a fazer apenas o que é exigido por lei nas áreas comuns. “Corredores maiores e banheiros acessíveis exigem mais espaço. Isso significa menos unidades. Logo, menos dinheiro.”
A construtora Tecnisa começou a pensar no tema há cerca de 10 anos, diz o diretor técnico da empresa, Fábio Villas Bôas. As primeiras alterações nos projetos foram pensadas por uma equipe de gerontólogos. “Levantamos a altura das tomadas, mudamos o tipo de piso e optamos por cores diferentes entre parede, chão e portas.”
A empresa pretende lançar no primeiro semestre de 2018 um empreendimento pensado para idosos. Segundo Villas Bôas, as áreas comuns serão parecidas com as de um prédio qualquer, mas os quatro primeiros andares terão instalações “quase hospitalares, para aqueles mais frágeis”. Nos demais andares haverá unidades tradicionais, mas acessíveis.
O tema também suscita o debate acerca de financiamento imobiliário para esse público. Os bancos adotam o limite de 80 anos e seis meses para os parcelamentos. Assim, uma pessoa na casa dos 70 terá cerca de 10 anos para quitar sua dívida. E juros e o seguro são bem maiores.
O professor de Finanças da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Joelson Sampaio aconselha planejar-se ao longo do tempo para não precisar de crédito na velhice. “Lá na frente, quando idosos formarem um terço da nossa população, os bancos pensarão em novos produtos. No momento, é totalmente inviável.”
Lar acessível
Mudança do perfil demográfico demanda casas que atendam às necessidades de moradores mais velhos
Idosos na população brasileira
18,6%
33,7%
13,7%
2030
2060
2014
Até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas
Idosos no mundo
Expectativa de vida brasileiro
EM MILHÕES DE PESSOAS
EM ANOS
79,1
75,5
71,9
1980
382
962
2017
2.100
2050
MULHER
HOMEM
Adaptações nas residências
As pontas dos móveis devem
ser arredondadas
SALA
Iluminação
com balizadores
Porta de entrada com 80 cm
Evitar uso de tapetes
Densidade do sofá deve ser superior a 28, porque assentos muito macios dificultam o movimento para se levantar
COZINHA
Pia em material claro
Fogão elétrico para evitar queimaduras
Torneira de alavanca
Piso antiderrapante
Reorganização do armário para que objetos de uso frequente estejam em altura acessível
QUARTO
Cama deve ter cerca de 45 cm de altura para que a planta dos pés toque o chão
BANHEIRO
Boxe em acrílico
Banco
Barras de apoio
Piso antiderrapante tem um coeficiente de atrito que, mesmo molhado, evita escorregamento
Vaso sanitário com altura de 46 cm
Lar acessível
Mudança do perfil demográfico demanda casas que atendam às necessidades de moradores mais velhos
Idosos na população brasileira:
2014 – 13,7%
2030 – 18,6%
2060 – 33,7%
Até 2025 o Brasil será o sexto país do mundo com o maior número de pessoas idosas
Reforma é opção para adaptar
Quando mudar de imóvel não é uma opção, reformar a casa pode custar caro. A aposentada Dirce Sampaio, de 77 anos, está começando as adaptações no apartamento onde vive há 15 anos. Mora só com o marido, Nelson Corrêa, 81 anos.
As mudanças começaram com uma barra no banheiro, há cinco anos, após Corrêa sofrer um AVC. Nos últimos meses, foi Dirce que passou a demandar cuidados especiais. A filha dela, Tânia, 58 anos, conta que a aposentada caiu oito vezes em um ano. “Colocamos mais barras no banheiro e estamos trocando algumas partes do piso.” Apenas a reforma no chão vai custar R$ 1.600. As barras saíram mais em conta porque foram instaladas pelo porteiro do prédio.
Ainda se recuperando da última queda, Dirce afirma estar mais atenta. Removeu os tapetes, reorganizou armários a fim de deixar os objetos mais acessíveis e se livrou das mesinhas. “Fiquei 45 dias com o pé engessado no sofá, a cadeira de rodas não passava pelas portas, arranhou minhas paredes. Foi difícil.”
A Universidade Federal de Pernambuco vai abrir vagas para mais uma edição do programa Universidade Aberta à Terceira Idade (UnATI)/UFPE.
O projeto vai oferecer cursos gratuitos para idosos no primeiro semestre deste ano. Há vagas para alfabetização, espanhol, inglês, italiano, automassagem, bordado em ponto cruz, nutrição, teatro, arteterapia e muito mais. Os interessados terão do dia 22 de fevereiro até 1º de março para se inscrever.
A idade mínima exigida para participar é de 60 anos. Outros pré-requisitos e informações gerais estão disponíveis no site.
A UnATI/UFPE é um programa de extensão vinculado ao Programa do Idoso (Proidoso) da Pró-Reitoria de Extensão e Cultura (Proexc) da UFPE. Para mais informações, é só ligar para (81) 2126-7366 ou enviar um e-mail para proidosounati@gmail.com.
O arrastão que o Carnaval promove não tem restrição de idade. Cada folião, dentro do seu ritmo, procura aproveitar desde as prévias até os dias oficiais da festa de Momo. Engana-se quem pensa que na terceira idade essa animação diminui. Ao contrário, o amor por essa festividade popular só aumenta ao longo dos anos. Entretanto, com o avançar da idade é necessário redobrar os cuidados com a saúde. Hidratação e uma boa alimentação são fundamentais para se chegar até a quarta-feira de Cinzas com pique para curtir o ano inteiro.
Aos 68 anos, Nizete Félix Cavalcanti herdou do seu pai a paixão pelos blocos e concursos. “Meu pai era um grande carnavalesco, e isso passou para toda a família. Já fui eleita rainha pela Federação dos Idosos de Pernambuco, em 2015, participei dos blocos líricos Ilusões, Utopia da Paixão e agora fui convidada para participar do bloco da Esperança”, declarou. Ela também concorreu pela oitava vez ao 9º Concurso da Rainha do Baile Municipal da Pessoa Idosa, que ocorreu no último dia 23, no Paço Alfandega, mas não venceu. O 17º Baile da Pessoa Idosa do Recife será realizado esta terça (6), no Classic Hall, e é organizado pela Secretaria de Desenvolvimento Social, Juventude, Políticas sobre Drogas e Direitos Humanos.
Outro folião que cresceu brincando o Carnaval é o artista plástico Maurício Claudino de Oliveira, de 63 anos. Natural de Caruaru, quando criança, ele via passar pelas ruas da cidade a La Ursa e desde então não perde nenhum bloco. “O Carnaval, para mim, é a consciência da minha regionalidade, estou sempre acompanhando os blocos de rua e participando de vários bailes. É um presente ter chegado a essa idade e conseguir representar o frevo”, disse. Maurício Claudino leva tão a sério a festividade popular que trabalhou por dois meses na fantasia em referência ao conde Maurício de Nassau.
Mas o Carnaval não é apenas folia, o período também é conhecido pelas histórias de amores, e por que não dizer, desamores. O aposentado José Loreto, de 74 anos, procura não perder nenhum bloco e, por conta desse ritmo frenético, seu casamento acabou não resistindo. Separado há 40 anos, José disse que um dos motivos pelo qual se divorciou e preferiu não casar de novo, é o fato de ser apaixonado pelo Carnaval. “Minha ex-esposa não gostava de Carnaval, esse foi um dos motivos que nos levou a separação. Resolvi não me casar mais, já encontrei muitos amores, mas é preciso acompanhar meu ritmo”, relatou o aposentado.
Há quem consiga encontrar seu par durante as festas, como é o caso do rei do Carnaval do Baile Municipal da Pessoa Idosa 2018, José Florentino da Silva, de 90 anos, e a rainha da edição do ano passado, Maria Gilda, de 77 anos. Eles se conheceram em 2012, quando José Florentino foi eleito rei daquela edição. “Eu já era viúva havia 12 anos, e foram os meus filhos que me mostraram ele. Me candidatei a rainha e me apresentei também. Depois disso nós fomos nos aproximando, nos conhecendo, até que quase no fim daquele ano, decidimos morar juntos”, declarou Maria Gilda.
Cuidados
A médica de saúde da família, especializada em geriatria, Fátima Nepomuceno, explica que, para o público da terceira idade é recomendável cuidados redobrados em relação à hidratação e alimentação. Os idosos retêm menos água do organismo, então é muito importante a reposição de água, principalmente daqueles que consomem bebida alcoólica. Queimadura é outra preocupação nesse período. “A pele do idoso é muito mais sensível, é uma pele com rugas. O uso do protetor solar é imprescindível para não acontecer à queimadura de 1º grau”, recomendou a doutora.
Para aqueles idosos que já possuem alguns problemas de saúde como hipertensão, diabetes e artrose, a geriatra Fátima Nepomuceno enfatiza que os remédios e as restrições alimentares devem ser mantidos. Nos casos de artrose, é necessário respeitar o tempo de descanso. “É possível brincar o Carnaval em qualquer idade, desde que seja com responsabilidade”, conclui. O motorista Eliezer Gomes de Oliveira, de 62 anos, segue à risca todos os cuidados para conseguir brincar o Carnaval. “Dou minhas caminhadas na praia, bebo muita água e tenho uma alimentação bastante equilibrada”, afirmou.
Fonte da matéria e créditos das fotos: Folha de Pernambuco – Por: Mirella Araújo da Folha de Pernambuco em 06/02/18 às 06H06, atualizado em 06/02/18 às 08H05